BREVE HISTORIAL DO PARQUE DE LOCOMOTIVAS A VAPOR DA CP
A tração a vapor em Portugal, aconteceu num período de cerca de 130 anos, iniciando-se em 1856 por intermédio da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e até 1977 com a CP, sucessora da Companhia Real e isto na via larga, porque na via estreita tivemos comboios a vapor entre 1875 e o início da década de 80 do século XX..
No seu período áureo, a CP teve cerca 300 locomotivas a vapor a funcionar, as locomotivas de tipo 230 e 231 de via larga eram na CP de grande classe e na via estreita também o foram as da série E140, assim como as Mallet.
Neste artigo, apenas são referidas as séries de locomotivas que existindo, foram abatidas ao parque depois da remuneração verificada em 1952 e que ainda hoje vigora nos mais variados tipos de tração e nos vários tipos de material circulante.
Locomotivas Tender de Via Larga
Série 010
Pequena série de apenas 4 locomotivas, foram construídas entre 1899 e 1903, pelas casas alemã Hanomag (as 011 e 012) e pela casa inglesa Beyer Peacock (013 e 014) e eram do tipo 031T. Começaram a sua vida ativa nos Caminhos de Ferro do Estado – Direcção do Minho e Douro e foram para a CP a artir de 1931, onde acabaram a sua carreira. Os CFE-MD compraram estas 4 locomotivas com o propósito de servirem nos comboios de mercadorias, nomeadamente no Ramal de Alfândega, no Porto. As 2 locomotivas de construção inglesa foram preservadas e estão no Museu Nacional Ferroviário, na Secção Museológica de Lagos (a 013) e no anexo de Nine, da ecção Mseológica de Braga (a 014).
Série 070
Construídas entre 1916 e 1944, estas locomotivas foram consideradas as mais versáteis, tendo-se adaptado de maneira fácil aos mais vários tipos de serviço que lhes foram solicitados. São do tipo 132T Adriatic e foram construídas pela casa suíça SLM (071 a 085) e pela casa alemã Henschel & Sohn (086 a 097). De maneira tardia, em 1944 a série viu ser integrada mais uma locomotiva, a 070 (deveria ter sido 098), que tem uma particularidade muito especial, pois foi construída pelo próprio pessoal da CP, nas Oficinas Gerais de Lisboa, tendo demorado 7 meses a ficar pronta e é uma das poucas locomotivas a vapor construídas em Portugal. A 070 e a 094 foram preservadas e estão no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
Série 0180
Esta série de 10 locomotivas de tipo 142T Berkshire, foram um produto da casa alemã Henschel & Sohn, que as construiu e entregou em 1924. Começaram a sua vida útil nos Caminhos de Ferro do Estado – Direção do Sul e Sueste e acabaram por chegar ao fim do vapor, já na CP, onde em 25 de março de 1977, a locomotiva 0187 rebocou o último comboio a vapor entre Porto São Bento e Porto Campanhã, num comboio especial feito com esse propósito. Quando vieram novas, eram alimentadas a carvão, mas devido à crise europeia do carvão no pós-guerra, foram fuelizadas. As locomotivas 0186 e 0187 foram preservadas e estão em estado de marcha, tendo voltado à CP, a fim de fazerem a tração do comboio histórico, com vocação turística, na Linha do Douro.
Locomotivas + Tender de Via Larga
Série 20
Estas locomotivas são do tipo 030 six wheeler, foram construídas entre 1875 e 1887 pela casa inglesa Beyer Peacock e na gíria do pessoal ferroviário foram apelidadas de “Papa-Almoços”. Começaram a sua carreira nos Caminhos de Ferro do Estado – Direção do Minho e Douro, chegando à CP em 1931, onde mais tarde acabaram a sua vida útil. A sua vocação principal era de fazerem comboios mistos, de mercadorias e manobras. A locomotiva 23 está preservada e está no Museu Nacional Ferroviário, mais rigorosamente na Secção Museológica de Valença.
Série 260
De tipo 230 Ten-Wheeler, apelidadas de “Atómicas” foram adquiridas pela CP entre 1899 e 1903, foram construídas pela casa francesa Fives-Lille e foram adquiridas com o propósito de fazerem comboios rápidos nas Grandes Linhas. A locomotiva 262 foi preservada e está exposta no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
Série 350
De tipo 230 Ten-Wheeler, esta série de 20 locomotivas foram um produto da alemã Henschel & Sohn (351 a 365) e da casa francesa SACM (366 a 370) e foram construídas e recebidas entre 1908 e 1913. A CP comprou-as para fazerem comboios rápidos na Linha do Norte. A locomotiva 357 foi preservada e está no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.
Série 290
Esta série de apenas 6 locomotivas foi construída em 1913 e entraram ao serviço no mesmo ano nos antigos Caminhos de Ferro do Estado, mais rigorosamente na Direção do Sul e Sueste e foram um produto da casa alemã Henschel & Sohn. A sua principal vocação foi a de fazerem comboios rápidos na Região Sul, e a mesma série chegou ao fim do vapor, tendo a 291 feito na CP o último comboio comercial entre a Régua e o Porto.
Série 550
De tipo 231 Pacific e construídas em 1924, são um produto da casa alemã Henschel & Sohn, começaram a operar nos antigos Caminhos de Ferro do Estado – Direção do Sul e Sueste, até que se integraram a partir de 1931 na atual CP. A sua principal vocação foi a de fazerem comboios rápidos de passageiros na Região Sul. Não constituíram despesa a nível de compra, pois foram entregues a Portugal através do programa de compensações e indemnizações que a Alemanha se obrigou perante os países com quem esteve em guerra (I Guerra Mundial). A locomotiva 553 foi preservada e esteve muitos anos exposta na Secção Museológica de Santarém, encontrando-se hoje exposta no Museu Nacional Ferroviário no Entroncamento.
Série 500
Esta série de apenas 8 locomotivas, foram construídas em 1925 pela casa alemã Henschel & Sohn, eram do tipo 231 Pacific e fizeram na CP comboios Rápidos entre Lisboa e Porto e volta. Tinham fama de corredoras e eram de grande classe, a 501 em 7 de abril de 1939, fez um comboio de passageiros entre Lisboa Rossio e Vila Nova de Gaia, em 3:43 e no regresso fez Gaia a Lisboa Campolide em 3:26, atingindo a média de 107,8 km/h e velocidades de ponta de 140 e 145 km/h, o que foi um grande feito para a época. A locomotiva 501 foi preservada, mas teve um grave incidente em Porto Contumil que a inutilizou de modo definitivo, não havendo mais nenhuma da série preservada.
Série 800
Esta série de apenas 3 locomotivas, chegaram à CP em 1947, em consequência da integração do material circulante da extinta Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, onde foram nessa companhia as mais potentes do parque e tiveram a titularidade do Sud Express, desenvolviam 1700 kw de potência e eram de tipo Mastodon (240), e foram um produto da casa alemã Henschel & Sohn, que as entregou à BA em 1931. Já na CP, terminaram a sua vida útil na Região Norte, sendo abatidas ao parque pelo Depósito de Porto Contumil. A locomotiva 801 foi preservada e esteve exposta durante algum tempo num pedestal junto à estação de Vilar Formoso.
Série | Numeração | Unidades | Rede | Ano | Construtor | Tipo | Bitola |
200 | 201 a 205 | 5 | ![]() |
1909 | 230 | 1668 mm | |
210 | 211 a 215 | 5 | ![]() |
1924 | 230 | 1668 mm | |
220 | 221 a 252 | 32 | ![]() |
1904 a 1926 | 230 | 1668 mm | |
260 | 261 a 272 | 12 | ![]() |
1899 a 1903 | 230 | 1668 mm | |
280 | 281 a 286 | 6 | ![]() |
1910 | ![]() |
230 | 1668 mm |
290 | 291 a 296 | 6 | ![]() |
1913 | ![]() |
230 | 1668 mm |
350 | 351 a 370 | 20 | ![]() |
1911 a 1913 | ![]() |
230 | 1668 mm |
400 | 401 a 406 | 6 | ![]() |
1908 | 230 | 1668 mm | |
500 | 501 a 508 | 8 | ![]() |
1925 | ![]() |
231 PACIFIC | 1668 mm |
550 | 551 a 560 | 10 | ![]() |
1924 | ![]() |
231 PACIFIC | 1668 mm |
600 | 601 a 614 | 14 | ![]() |
1877 a 1890 | 040 | 1668 mm | |
700 | 701 a 719 | 19 | ![]() |
1912 a 1921 | 140 | 1668 mm | |
750 | 751 a 766 | 16 | ![]() |
1912 a 1926 | 140 | 1668 mm | |
800 | 801 a 803 | 3 | ![]() |
1931 | 240 MASTODON | 1668 mm | |
830 | 831 a 836 | 6 | ![]() |
1947 | 240 MASTODON | 1668 mm | |
850 | 851 a 872 | 22 | ![]() |
1944 a 1945 | ![]() |
141 MIKADO | 1668 mm |
© 2020 – Conceção do Departamento de Estudos da LUISFER
Desenhos das locomotivas – Agradecimento e cortesia de Eugénio Santos
Bibliografia consultada – Vapor em Portugal de Manuel Luna e
Vapeur au Portugal de Marc Dahlström