2007.02.24 – REFER – José Reizinho – Controlador de Circulação da REFER

Apresenta-se neste módulo, entrevista que a LUISFER fez ao agente da REFER, Sr. José Reizinho, que é Controlador de Circulação e Chefe Titular da Estação de PORTO Campanhã, que de forma simpática, aceitou o nosso convite e assim se disponibilizou em favor de todos os nossos leitores, muitos deles, igualmente colegas ferroviários da REFER e CP e que a LUISFER, como é óbvio, igualmente agradece pela disponibilidade que fez o favor de nos dispensar. Este documento foi publicado no antigo blogue da LUISFER em 24 de fevereiro de 2007.

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Microfone01 LUISFER – Senhor Agente José Reizinho, muito obrigado por nos conceder esta entrevista, em que é nossa intenção, ouvirmos e darmos a possibilidade aos agentes ferroviários, para falarem um pouco de si mesmos e da sua actividade profissional, em favor de todos os nossos amigos leitores. Por favor, fale-nos então um pouco sobre a sua identidade e naturalidade, os seus gostos pessoais, assim como das suas lembranças de juventude, até à sua entrada para a CP/REFER?

Microfone01 José Reizinho – Olá a todos os leitores do BLOG da LUISFER, gostaria de me apresentar. O meu nome é José Alberto Reizinho, sou natural de uma aldeia (São José das Matas) da freguesia de Envendos, concelho de Mação, distrito de Santarém (Beira Baixa), tenho 41 anos, sou casado com dois filhos e sou ferroviário desde 1989 e iniciei a minha vida ferroviária aqui mesmo nesta Estação de Campanhã.

Gosto muito do que faço e também tenho outros “HOBBIES” e que são o BTT, a caça, a pesca, a leitura e tudo o que é relacionado com o contacto com a natureza. Até à minha entrada para a CP (na altura só existia esta empresa) fui um jovem como milhares de outros que estudava em Abrantes e que passava as férias na aldeia com os amigos nas festas e nas pescarias e passavam-se uns bons bocados.

 

Microfone02 LUISFER – Nos dias de hoje, é Chefe Titular da estação de PORTO Campanhã. Fale-nos um pouco da sua experiência nesta função?

Microfone02 José Reizinho – Como Chefe Titular de Porto Campanhã tenho muitas experiências (umas boas e outras nem por isso) e um grande ensino de vida pois foi o cargo que ao contrário de todos os outros que anteriormente desempenhei o que mais exigiu de mim como pessoa e como profissional.

A saber que é uma Estação, que do ponto de vista das circulações é muito complicada e que a nível de recursos humanos também tem os seus problemas, pois há ocasiões em que todos nunca somos demais para o serviço que se apresenta, mas que a maioria das pessoas, ou seja, o mais comum dos passageiros não se apercebe da complexidade e do que é necessário para por tudo isto a funcionar em pleno. Isto origina que em determinadas alturas e quando menos se espera, até o fácil se torna complicado e temos de estar preparados para tudo isto, reagir de forma imediata e levar tudo com muita serenidade. Digamos que a maior experiência é saber levar e manter sempre tudo dentro de controlo, e assim a nossa missão é cumprida de forma quase exemplar.

 

Microfone03 LUISFER – A estação de Campanhã, não é uma estação qualquer. A par de Santa Apolónia e do Entroncamento, são as mais importantes do país. Como foi e é hoje Campanhã, sob o ponto de vista de instalações e oferta aos utentes dos comboios na segunda cidade do país?

Microfone03 José Reizinho – Quando iniciei a minha carreira ferroviária (como já disse anteriormente, em 1989), a Estação de Campanhã, como segunda estação do país e a nível de circulações, era a que tinha e ainda hoje tem o maior número de circulações por hora e estava velha e desajustada. Passados estes anos todos e depois do investimento feito pela REFER, penso que temos uma Estação ao nível das melhores da Europa e quando todo este Centro estiver a funcionar em pleno, então sim, poderemos dizer que a aposta está ganha e ficamos com uma Estação moderna e digna de pertencer ao Século XXI.

 

Microfone04 LUISFER – De certeza, que teve vivências únicas também na função que desempenha nesta estação. Conte-nos alguns episódios, por exemplo, sobre factos insólitos e engraçados, que tenha presenciado nesta estação e que sejam novidade para as pessoas?

Microfone04 José Reizinho – Há várias histórias ao longo dos tempos e eis algumas engraçadas ou talvez não: Um dia o Inter-Regional procedente de Lisboa, ainda do tempo da ponte Dona Maria, que era e muito bem conduzido por um dos grandes maquinistas de que a CP se pode orgulhar de ter tido nos seus quadros, – aqui lhe presto também uma justa homenagem-, descarrilou à entrada das primeiras agulhas da estação. Como é normal, o maquinista apercebe-se que a máquina perde força e mete mais um ponto (é um aumento de potência) , como ainda não correspondia pelo melhor mete mais outro e ainda outro e ainda um outro e a carruagem lá continuava a sua viagem umas vezes nos carris e outras fora, mas o que é certo é que quando parou o comboio, este estava perfeitamente carrilado e ninguém se apercebeu do que se tinha passado. Também era este senhor que fazia o favor de quando o agente das partidas (o homem que assobiava) se atrasava alguns minutos e chegar sempre á tabela à estação seguinte e nunca teve qualquer tipo de problemas com ninguém. Era acima de tudo um grande profissional e um ainda maior HOMEM (era conhecido por GOVERNO).

 

Microfone05 LUISFER – Diga-nos por favor, em Campanhã, quantos comboios temos por dia, quantas linhas tem esta estação e quantos ferroviários aqui trabalham?

Microfone05 José Reizinho – Comboios a passar por cá diariamente contando com marchas de serviço, comboios de mercadorias, circulações especiais e comboios de anúncios, são cerca de 400 (pode variar para mais ou para menos). Ferroviários a trabalhar directamente com a circulação e em três turnos de serviço são 17 diários, mas com pessoal auxiliar que são 9 por dia e contando com pessoal de descanso e férias somos no total de 43.

Em todos os sectores contando com as diversas empresas (REFER, REFER TELECOM, CP, DIMETRONIC) trabalharão em CAMPANHÃ, diariamente, cerca de 300 pessoas. Esta Estação possui ao serviço 16 linhas divididas por 15 com acesso de gares, 6 linhas de resguardos, 4 com rampa para descarga e carga de automóveis, num total de 26 linhas e tem acesso a Contumil por 5 vias à superfície e uma subterrânea (1 linha ascendente Minho, 1 linha ascendente Douro, 1 linha descendente Minho, 1 linha descendente Douro, 1 via de Serviço e 1 via Desnivelada com acesso directo à linha de Leixões).

 

Microfone06 LUISFER – Agente José Reizinho, a família ferroviária, ainda está em festa, por motivo dos 150 anos dos comboios em Portugal. A nível pessoal, como sente e como viveu e vive esta importante comemoração?

Microfone06 José Reizinho – É uma data que deixa toda a família ferroviária bastante orgulhosa, pois 150 anos de vida, transmitem como é óbvio, um sinal de respeito muito grande. Pessoalmente e como só ando por cá há apenas 18 anos e só agora atingi a maioridade.

Sinto muito a falta da antiga CP (Caminhos de Ferro Portugueses), que alguém se lembrou um dia de desmembrar e formar uma outra empresa do mesmo ramo chamada REFER à qual pertenço, assim como muitos milhares (ainda) de trabalhadores e sem direito de opção. Penso que num país como o nosso e com o tamanho físico que Portugal tem, uma empresa chegava muito bem, tinha era de ser bem gerida e tinha de ter havido coragem política na altura para se poder fazer o que se tem feito até hoje e manter os postos de trabalho. Assim como se pode perceber, os 150 anos do caminho-de-ferro para a maioria dos ferroviários, nem sequer existiram pois ninguém sabe o que são.

 

Microfone 07 LUISFER – Fala-se cada vez mais em liberalização, também no domínio ferroviário. Como vê esse fenómeno? Em tempos passados, era só a CP que existia, depois veio a REFER. Como viveu essa realidade também?

Microfone07 José Reizinho – Como disse anteriormente, o desmembramento da CP em várias outras empresas deu no que deu, sou totalmente de acordo que venham mais investidores para o caminho-de-ferro, pois agora e mais do que nunca, temos condições para servir mais operadores e as linhas da REFER estão subaproveitadas. Portanto, esses operadores já cá deviam estar. A REFER tem todos os meios para servir condignamente, tanto com recursos humanos como com vias novas e modernas.

 

Microfone 08 LUISFER – Agente Reizinho, permita-nos uma pergunta, sobre nós mesmos, ou seja, sobre a LUISFER. Como sabe, embora seja pessoal e gerida por uma só pessoa, a LUISFER, apresenta-se e organiza-se numa forma plural e clara, sem qualquer complexo de pluralidade e foi fundada precisamente na sua estação, há 30 anos. Por isso, diga-nos, como nos vê, o que é para si e para os demais agentes REFER e CP, a LUISFER, na pessoa de Luís Moreira, que tantas vezes, vocês encontram nas plataformas desta importante estação?

Microfone08 José Reizinho – Sob o meu ponto de vista, a LUISFER existe de uma forma muito digna e que realiza um trabalho deveras interessante. Pode ser vista de uma forma mais banal por outras pessoas e outros grupos de entusiastas, mas isso só demonstra que há aqui trabalho e trabalho com interesse (por vezes a dor de cotovelo tem destas coisas que é querer transformar o bom em banal).

O excesso de dedicação como já se ouviu outros dizerem quando falamos na LUISFER. É talvez compreensível para quem não conhece ou não é capaz de dar ou colocar tanto gosto naquilo que faz mas isso é algo tão pessoal que ninguém tem sequer o direito de criticar (ou se gosta ou não).

 

Microfone 09 LUISFER – Nesta última pergunta, pedimos-lhe o favor de dirigir umas últimas palavras para os nossos leitores, que como sabe, alguns deles são ocasionais, outros são quadros e agentes ferroviários, assim como outros, que são amigos dos comboios?

Microfone09 José Reizinho – Somente quero dizer que continuem a ler o blog da LUISFER e a visitar o portal pois é bastante interessante e tem matéria e material ferroviário até dizer chega. É uma grande enciclopédia.

 

Microfone10 LUISFER – Agente José Reizinho, muito obrigado pela atenção e disponibilidade que fez o favor de dispensar.

Microfone10 José Reizinho – Foi um prazer e disponha sempre que necessário. Quero também desejar em meu nome e de todos os trabalhadores de Campanhã muita sorte para a LUISFER e que continue a fazer um bom trabalho. Até sempre.

 

Nota: A entrevista foi feita por Luís Moreira da LUISFER e teve lugar no Gabinete do Chefe de Estação de Porto Campanhã.

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